Um texto bastante interessante para dedicarmos um pouquinho de nossa atenção é a narração de um evento na vida de Jesus, que, mesmo não crendo em sua divindade ou nos atributos que ele dizia de si mesmo, devemos levar em consideração, pois o evento aqui descrito mostra um pouco do que se passou na vida daquele homem e das pessoas que estavam à sua volta.
Houve um momento crucial para a vida de muitas pessoas narrado no relato de João acerca da vida de Jesus e sua passagem nessa terra. A história é dividida em a.C. e d.C. no nosso calendário, mas em face daquele evento, podemos dizer que até mesmo para aquelas pessoas a história teve a mesma divisão, mesmo eles não conhecendo o termo como o conhecemos hoje.
Para muitas pessoas, é possível dizer que Jesus odiava os fariseus e os religiosos de sua época, pois constantemente estava delatando-os e os expondo às suas misérias emocionais e espirituais. Eles se diziam tão santos e ao mesmo tempo perdiam assustadoramente a credibilidade dia após dia com a presença de Jesus de Nazaré. Jesus sabia disso e mesmo assim, não se utilizava dessa vantagem como motivo para promoção pessoal ou conquista de poder, pelo contrário, convidava as pessoas a se afastarem dele, mostrando que a popularidade não era sua meta enquanto aqui estava. Já os fariseus e publicanos eram realizados quando os homens os reconheciam como pessoas espirituais e homens aparentemente tementes a Deus. Sua devoção a Deus era apenas externa e com motivos mesquinhos e egoístas. Pensavam apenas em si mesmos e no poder e popularidade que isso lhes trazia com o povo. Suas vidas eram pautadas pelas regras e tradições que se criaram ao longo do tempo.
Não poucas vezes vemos Jesus delatando-os publicamente e até mesmo falou para os seus discípulos serem muito cuidadosos com a doutrina dos fariseus dizendo que apenas um pouquinho de suas regras poderiam comprometer todo o seu ensinamento. Uma afirmação absurdamente séria para quem se dizia cumpridor da lei, como Jesus mesmo disse de si mesmo.
Jesus falou em amor e em renúncia de si mesmo por muitas vezes mas mesmo assim, nunca deixou que seu ensino fosse deturpado pelas pessoas. Ele tinha um zelo absoluto pelas escrituras e pelos seus ensinamentos, pois afirmava que os seus ensinamentos vinham direto do pai que ele afirmava ser o próprio Deus, não permitindo, dessa forma, margem alguma para erros nas suas afirmações. Porém, se Deus é amor, por que contrariar os homens? Por que irritá-los e por que transtorná-los chamando-os de hipócritas, mentirosos e egoístas?
Uma de suas palavras e afirmações mais interessantes foi quando ele disse que na medida em que julgarmos seremos julgados também e com a medida com que medirmos aos outros seremos também medidos. Que sábia e justa afirmação! Há quem diga que quando apontamos um dedo para o nosso irmão, temos outros quatro apontando para nós mesmos, mas o que Jesus disse foi que o mesmo peso de julgamento que utilizarmos, será utilizado para nós.
Vamos nos utilizar de uma analogia para tentarmos entender esse raciocínio.
A física explica que quando um corpo entra em atrito com outro corpo, este resiste com a mesma força com que foi atacado. A física também explica que para nos mantermos sobre a terra, ela exerce uma força para não afundarmos. Por que afundamos na água do mar? Justamente por isso, a água do mar não oferece resistência ao nosso peso e afundamos. Se você jogar uma pedra na parede ela fará um certo estrago, mas se a parede for resistente o suficiente, a pedra vai bater, rebater e cair, por causa da atração magnética da terra. Vamos entender com mais facilidade. Quando alguém dá um soco em uma parede, dificilmente a parede sentirá alguma coisa, ao passo que quem deu o soco sentirá o impacto na medida da força com que agrediu a parede. Sei por experiência própria, pois já fiquei dias com dor na mão por causa de uma brincadeirinha não muito inteligente de minha parte. Experimente dar um soco em um colchão e um soco em uma parede de concreto. Você sentirá uma diferença. O colchão não oferece resistência ao passo que a parede vai oferecer a mesma intensidade do soco que for dado nela. O exemplo pode ser feito também com a cabeça, pode-se dar uma cabeçada na parede para ver o que acontece. O que não aconselho ninguém a fazer, pois isso poderá causar um transtorno considerável.
Jesus, em outras palavras utilizou o mesmo princípio fazendo uso de leis espirituais que atuam no reino dos céus, que era o reino que ele pregava por toda sua vida. É possível que ao peso de tais afirmações os fariseus e religiosos da época sentiam-se não muito confortáveis, pois sua vida girava em torno de acusações e aplicação de julgamentos sem nenhuma misericórdia.
Sua maneira de viver era apontar os erros das pessoas e mostrarem o quanto eram santos aos olhos dos homens. Sua satisfação era provar para todos que eles eram detentores da lei e dos profetas. A verdade, aos olhos deles, lhes pertencia e nada podia contrariá-los. E de fato, as pessoas já não sabiam mais em quem acreditar, pois viviam em um mundo dominado politicamente por Roma, que lhes cobrava os impostos e por líderes religiosos que ditavam as regras de conduta moral com a aprovação do governo romano, pois tais condutas em nada entrava em conflito com a forma romana de governo, que única e exclusivamente lhes cobrava os impostos, que Jesus também pagava, pois fisicamente ele estava sujeito ao governo romano, contudo na sua mente e no seu espírito ele deixou claríssimo que as leis que regiam sua conduta não pertenciam ao sistema romano e tampouco a doutrina dos fariseus. Os fariseus constantemente procuravam um vacilo do mestre para poderem lhe armar uma cilada e questionarem sua autoridade. Mas uma coisa pode ser levada em conta dentro de todo esse contexto. Jesus afirmou que devemos amar os nossos inimigos. Em momento algum ele afirmou que os fariseus eram seus inimigos, mas subentende-se, pelas suas atitudes, que eles o tinham como um inimigo que deveria ser eliminado a qualquer custo e mesmo assim, Jesus lhes amava muito e utilizou uma maneira não muito usual para demonstrar esse amor.
A profunda reflexão sempre foi um dos atributos notáveis na pessoa de Jesus Cristo de Nazaré. Ele era um homem que várias vezes foi exposto a questionamentos e situações que fariam muitos de nós reagirem de uma maneira completamente diferente da maneira que ele agiu, e ainda assim, consideraríamos correta nossa atitude. Mas para ele não, para ele a atitude correta visava sempre a restauração do homem, fosse o homem que fosse, estivesse onde estivesse e não importava o passado de quem quer que o procurasse, fosse para acusá-lo, fosse para aprender com ele. Suas atitudes e palavras foram sempre para fazer o homem pensar sobre sua situação e procurar o conserto com Deus. A religião de Jesus era muito diferente da religião dos homens da época e com certeza, muito diferente dos conceitos que temos hoje de religião e santidade nos dias de hoje.
Para tocar o coração das pessoas, Jesus em momento algum lhes apontou o pecado de alguém que demonstrava um interesse sincero em saber a verdade. Ele sempre falava a verdade quando inquirido e somente em casos extremos atacou alguém com palavras, e mesmo quando os atacava, estava protegendo o caráter e integridade divinos do Pai, que tem em sua essência, o amor supremo. Quando alguém atacava uma pessoa indefesa, Jesus não pensava duas vezes e utilizava sua maior arma para redarguir aqueles que, tendo o conhecimento, faziam uso do mesmo simplesmente para sua promoção pessoal.